QUEM SOU

Não é à toa que os índios viram pequenos demônios nas placas de letras que os colonizadores trouxeram. Sim, as letras são diabinhos. Eu sempre gostei de ler. Lembro do encantamento que sentia quando movia as tábuas de letras e formava novas palavras na escola. Um verdadeiro feitiço! E depois, quando pela primeira vez li um outdoor passeando de carro com minha família, fiquei tão contente que não parei de ler em voz alta para mostrar para todo mundo que eu tinha lido. Eu tinha entendido! É como se de repente um mundo se descortinasse e estivesse a seus pés... O feitiço e o poder que as letras concedem. Obra do demônio!

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Criança e adolescente leitora voraz, tive vontade de ser escritora. Não segui esse instinto. Saí pelo mundo em busca do sentido da existência, da fonte que me aplacaria a sede de conhecimento e transbordasse em minha atuação. Fui estudar as leis da vida, não foi suficiente. Quis entender as leis humanas, não suportei os jogos de poder que sustentam as injustiças. Encontrei, na Antroposofia, uma luz para a compreensão integral do ser humano e do cosmo, o que me fez querer mais, me fez querer conhecer a alma. Aos 51 anos, vivo com meu marido, gatos e cachorros na minha casa no Rio de Janeiro, sou aconselhadora biográfica, professora de Antroposofia, psicóloga e artista plástica. Trago em mim tudo o que vivi, tudo o que sou e tenho.

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Hoje a escritora se faz notar: vibra em meu peito, revolve minhas entranhas e grita em minha cabeça o que quer colocar no papel. Surge como fênix, nascida das cinzas de seu abafamento, plena do mundo que agora, vive em mim. Alça seu voo, ainda tímido, ainda baixo, experimentando seu estilo, sua linguagem, suas formas, mas segura de que precisa voar, precisa escrever. Enfim, colocar em letras tudo isso sem querer enfeitiçar ninguém, dando aos pequenos demônios a oportunidade de se desencantarem e levarem não feitiços, mas reflexões aos meus leitores. Autorreflexões que, talvez, abram as janelas para questionamentos e não certezas.