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  • Alexandra Mettrau

FERA!


Um prazer simples da vida, para mim, é fazer carinho nos meus bichos. Qualquer um deles. Os gatos, os cachorros e os bichos que moram dentro de mim. Se bem que nos meus animais internos não é simples, nem prazeroso, em princípio. Só depois de conseguir é que eu vejo que era tão fácil! E se era assim, por que foi tão difícil? É difícil porque tenho medo, vergonha, tristeza, rejeição. Porque o bicho pode ser feio, monstruoso, bravo, gigantesco, ou frágil, ínfimo, insignificante, ordinário. Ele pode me atacar, pode me fazer atacar os outros. Por outro lado, pode ser que eu o machuque, se ele for vulnerável demais. É difícil porque eu não o conheço, porque eu tenho tanto medo dele que eu acabo ignorando-o e, assim, desconhecendo-o.


Mas antes de eu ter meus deliciosos gatos e cachorros, eu também não os conhecia. Nem eles a mim. Lembro quando cada um chegou, como, num ato de coragem e amor, eu me aproximei e os conquistei. Hoje, fazer festa na mandona Frida ronronante, na Ella reclamona, no Elvis brincalhão, na Mavie sapeca e no doce Chagall é um descanso na loucura diária, um minuto atemporal de presença e conexão.


O Chagall, por exemplo, foi um impulso imediato e imperioso de compaixão por um cachorro gigante e amedrontador que chegou na minha casa confuso, cansado e assustado depois de passar um dia vomitando e mijando no transporte que o tirou da natureza onde morava e o levou para a apavorante e barulhenta cidade grande. Impulso que me fez abraçá-lo sem sequer pensar nas consequências. E ele reconheceu e retribuiu esse amor imediato. Depois desse primeiro encontro, ele ainda demorou algumas semanas para realmente confiar em mim, mas o amor daquele primeiro dia eu revejo a cada olhar que ele me lança.


Assim como o Chagall, os animais internos que eu já reconheci tornaram-se amorosos e agradecidos por terem sido vistos. Continuam com sua natureza selvagem, como o Chagall continua com a dele, mas se entregam a uma mudança, a um controle pacífico e sinto o prazer de hoje poder afagá-los sem medo, porque sei quem são.


Os bichos que antes me apavoravam, agora reconheço em suas forças e características. Foi difícil e doloroso chegar perto deles, mas depois que cheguei pela primeira vez e os vi, a cada um, posso, assim como com o Chagall, acarinhá-los porque confiamos que o amor que temos um pelo outro pode nos transformar sem nos anular.


IMAGENS:

- Eu e Chagall;

- Chagall;

- Eu, Elvis, Mavie e Ella;

- Frida

Crédito das fotos: Marcelo Guedes



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