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  • Alexandra Mettrau

AO SABOR DAS INTEMPÉRIES


Eu adoro Florianópolis, sempre que chego lá tenho a familiar sensação de estar em casa. Tem uma atmosfera muito carioca, só que em menor escala, então sinto que ainda mantém o aconchego que o Rio já perdeu. Várias vezes pensei em como seria bom morar lá. Mas, numa semana que passei na cidade, o tempo mudou tanto: teve sol escaldante; tempestades furiosas; ventanias desenfreadas; frio de rachar e sol abrasador de novo, que eu decidi que não é lugar para mim porque não gosto de ficar sujeita às intempéries.


Intempérie. Sempre gostei dessa palavra.


Não sei exatamente o que, mas algo nela me passa um ar de nobreza e elegância.


“Ficar ao sabor das intempéries.” É assim como estar à deriva, perdido em alto mar, e ter que se submeter à imprevisibilidade do tempo e das condições.


Deriva também é uma palavra bem legal, mas não vou me sujeitar às intempéries vocabulísticas derivando para outra palavra. Pode ser que mais tarde as condições do texto me joguem de volta a ela.


Por enquanto, sigo atracada no porto inicial, sujeita a mau tempo, borrascas (que palavra deliciosa!) e tempestades.


Sim, porque intempérie é mau tempo, condições desfavoráveis, desgraça. Já viu que significado mais limitado para uma palavra tão linda? Parece que ela fica sujeita a uma definição externa, limitante, opressora. É como tentar prender o vento numa garrafa. Ele vai parar de se movimentar e vai se reduzir a ar.


Pois é, mau tempo reduz a nossa protagonista a algo infeliz. Para mim, ela é infinita. Ela não se limita a definições e julgamentos, ela se nos impõe. Ela me joga de um lado para outro, me tira o conforto da previsibilidade, me assusta e me encanta.


Ela me mostra que é muito maior do que eu e me dá a chance de capitular, me entregar ao mistério que me envolve. Assim, ela me permite me entregar a Deus e, quem sabe, encontrar o Deus em mim.


IMAGEM: John William Waterhouse - Miranda (da peça de William Shakespeare "A Tempestade")


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