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  • Alexandra Mettrau

MISTÉRIOS DA NATUREZA

Atualizado: 14 de jun. de 2023


Eu divisei o pequeno vão indistinto. Percebi com surpresa um brilho discreto através da abertura.


- Sofrimento substancializado, minha amiga. Dores e amores, tudo transforma. Nem uma pista indica nada; tenta imaginar como algo que machuca vira uma joia – pensei comigo, mirando a pérola que surgia ao abrirmos a ostra. O pensamento voou longe. Um espanto inquisitivo se exprimiu em meu rosto. Suspirei. - Os mistérios da natureza. E eu? Que fazer com o sofrimento?


Calorosamente acolhi a compreensão que me envolvia.


- O mistério também está em mim, a potência para transmutar a dor aí vive e lateja. Enfrentar corajosamente meus sofrimentos me permitirá lapidar as mais belas joias de sabedoria.


Absorta nestes pensamentos, ouvi um chamado. Olhei ao redor, não vi ninguém. - Devo ter me confundido – concluí. Antes que eu pudesse me concentrar novamente em minhas divagações, escutei a voz que me chamava: - Psiu! Aqui!


Sem acreditar, mais uma vez olhei ao redor para me certificar da direção do som. Perplexa olhei para a concha. O pequeno molusco se retorcia como uma língua lá dentro, buscando minha atenção: - Aqui mesmo! - Me disse. Vai ficar aí só pensando? O que você tem feito com todas essas caraminholas que surgem na sua mente fértil?


Enquanto eu tentava voltar a mim, divisei a pérola que, sem dar tempo de me refazer do choque da ostra falante, começou a crescer. Foi crescendo e se desencrostando, libertou-se da concha e liberou-a de seu peso, enquanto aumentava em tamanho e brilho avançando para fora da ostra, da mesa, do galpão…


A pequena língua seguiu me dizendo: quando a metamorfose está pronta, a pérola tem que sair, senão vai me pesar e apodrecer comigo quando eu morrer. Agora ela pode ser vista e irradiar seu mistério. Nem todos vão compreender, mas certamente, todos que a virem serão tocados por ele.


Eu ainda não podia acreditar. Extasiada e confusa, ouvia o pequeno molusco me dando lições de sabedoria autobiográfica, enquanto seguia com o olhar a trajetória da joia, que continuava crescendo. Conforme ela aumentava de tamanho, suas marcas se faziam notar: alguns defeitinhos, invisíveis enquanto pequena perfeição, agora nítidos caminhos, maravilhosas cicatrizes. Rastros do processo de virada que embeleza o sofrimento.


De repente, me dei conta do cair da noite e, estupefata, vi o globo nacarado subindo no horizonte. Lua cheia, perolada, brilhante, manchada. Centelha de luz! - As manchas do nosso satélite são as marcas de seu processo de formação. As marcas que o embelezam e que nos mostram: coelhos, São Jorge derrotando o dragão, ou mesmo uma madona! Tudo isso é a Lua e está nela. Todos os caminhos percorridos até ela atingir sua magnificência.


Com este pensamento distingui mais uma forma no belo disco iluminante – um sorriso e um piscar de olhos – a Lua me sorriu aquiescendo!


Fechei os olhos com força, tentando reter todas essas impressões e organizar meu pensamento. Quando reabri, na minha frente, pequena ostra com sua brilhante pérola e novo significado surgiram. No céu, a Lua, já mais alta e sábia, iluminava a escrivaninha onde me sentei com uma ideia na cabeça e uma caneta na mão...


IMAGENS:

Lua - Foto de NASA na Unsplash

Lua - Foto de Alexis Antonio na Unsplash





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