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  • Alexandra Mettrau

RENDIÇÃO!

Atualizado: 11 de set. de 2022


Resposta à Provocação! (Leia o texto anterior).


Por um momento pensei: - estou louca! Ao perceber que falavas comigo. Me senti em um filme de Buñuel e Dali. Exceto que no tempo deles não havia computador… Mas havia telas, as que se prostravam diante de Dali esperando sua primeira pincelada ou as que aguardavam ansiosas pelas palavras dos roteiros de Buñuel. E me dei conta de que esse diálogo deve ter acontecido muitas vezes também entre eles, e muitos outros artistas, com seus alvos espaços de criação.


Sim, porque não é fácil romper a brancura perfeita que me encara. É arriscado demais macular com uma falha o que, de outra forma, seguiria estável e pronto para outra pessoa que não errasse. Disse Kandinsky: “Maravilhosa é a tela vazia - mais bela do que certos quadros”(1) E certamente também mais bela do que certos textos. Como posso me atrever a enfeiar o que em si já é uma maravilha, pois contém todas as possibilidades? Quando eu escrever, terei escolhido uma e descartado todas as outras. Escolhi a certa? Posso exprimir verdadeira e belamente o que me vem à mente?


E, além de tudo isso, vens tu e me desafias com uma responsabilidade que não sei se logro corresponder. Tenho razão em hesitar… Quanta expectativa tens em mim! Assustas-me! Mais do que eu a mim mesma.


Muitas vezes te olho e nada me vem à mente e isso me frustra um pouco, porque eu espero de mim cada vez melhores textos, e prontidão constante para escrever. Como se criar fosse só decidir e começar, como se a inspiração estivesse sempre aqui, do meu lado, bastando chamar que a Musa sopra algo no meu ouvido.


E hoje, ao responder-te, a Deusa me traz inúmeros artistas que pensaram e realizaram o belo. Agora vem Picasso, e me diz que “a inspiração existe, mas tem que te encontrar trabalhando”(2). Todos a me rodear, compreendendo meu medo, mas me incentivando a seguir, porque se eles não tivessem aceitado o desafio de suas telas brancas, não teriam escutado as Musas que os inspiraram nas mais belas obras.


Agora ouço leitores discordando da beleza de algumas criações de Picasso, Dali, Buñuel, Kandinsky e tantos outros controversos artistas. Mais um obstáculo que eu me imponho: o medo do julgamento. Se o leitor não gostar do meu texto, ele será menos belo?


E já te ouço contra argumentar-me: - ele será tanto mais belo, quanto mais verdadeiro. Pensas que a verdade está encerrada em um só ponto de vista? É possível que discordem de ti, porque não olham pela mesma perspectiva que tu olhas, mas isto faz a tua mirada menos exata? Talvez a faça incompleta, imperfeita, mas não menos fiel. Teu escrito só será feio se o quiserdes impor como a única realidade. Acaso todos esses grandes artistas não tiveram que enfrentar as mais fortes oposições? Quem és tu para te furtares de expressar a tua mais profunda essência? O que diz teu grande amigo João? “Carece de ter coragem. Carece de ter muita coragem…”(3)


Nenhuma criação existe sem sofrimento. A dor de uma mãe ao parir seu filho, a dor de um artista ao criar sua obra. Não sei o que vai ser, aonde vai, quem vai encontrar, só sei que sinto algo que quer vir ao mundo e que só eu posso trazer. Outros talvez criem mais e melhor, mas nunca o que eu criaria. Se eu não tiver coragem, não enfrentar meus medos, minhas dúvidas, minha vergonha, minha pequenez e minha arrogância, que me fazem sofrer, nunca poderei escrever algo belo. Belo porque nasce da verdade de minha imperfeição e incompletude, que eu decido encarar e reverenciar, expressando-a. Que seja bela porque verdadeira é.


Humildemente, me rendo.


Escrevo!

1- In: O Futuro da Pintura de Wassily Kandinsky

2- Fonte da citação: Wikiquote

3- In: Grande Sertao: Veredas de João Guimarães Rosa


ARTE DIGITAL - Marcelo Guedes e Alexandra Mettrau


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