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  • Alexandra Mettrau

SONHOS IMEMORIAIS DE COLOSSOS ANCESTRAIS



Sobre o horizonte, gigantes adormecidos se aquecem ao sol do entardecer. Botões de bromélias reluzem em suas vestes rochosas estampadas de matas e musgos. Verdes frescos resplandecentes, lentamente cedem lugar aos cinzas violáceos trazidos pelo manto da noite que emoldura os sonhos intemporais dos imensos seres.


Sonham com as lembranças dos tempos em que caminhavam pela Terra deixando como rastros os leitos dos rios e em suas pegadas mais fundas os berços dos lagos. Memórias de eternidades nas quais seus feitos geravam ou transformavam paisagens; sua fala acalentava como brisa fresca ou devastava em ferozes tempestades e abrasadores ciclones; seus soluços e espirros criavam leves ondas nas praias ou arrasadores maremotos e tsunamis.


Sonhos saudosos de um tempo em que a própria Terra ainda era maleável a seus destemperos e suas criações.


Sonhos de incontáveis eras, efêmeros personagens e constante metamorfose cenográfica.


Sonham também com o tempo em que minúsculos seres, poucos e seminus, começaram a caminhar pelas matas que surgiam em solos cada vez mais firmes. Pequenos grupos de indivíduos caminhando e caçando pelos bosques e florestas.


Nos sonhos, o tempo se faz tempo e a terra se faz firme e os grandes colossos começam a sentir sono, enquanto os minúsculos seres gradativamente deixam de caminhar para fazer morada, criar animais e se vestir de peles.


O sono intemporal dos grandes criadores das paisagens lentamente os vence e, como último ato criativo, aos poucos se deitam, formando as mais belas cadeias de montanhas ao redor do mundo.


Picos e montes que os pequenos indivíduos começam a explorar e conquistar, conforme aprendem a rasgar a terra para cultivar o solo e produzir alimentos, se juntando em bandos mais populosos para formar pequenas comunidades. Repentinamente as singelas tribos tornam-se vilas, aldeias, cidades, metrópoles. Quadrados de pedra substituem árvores, lembrando formigueiros verticais, lotados de pessoas cobertas com vestes incomuns, que entram e saem incessantemente, assolando a terra ao redor.


Cada vez mais profundo sono arrebata os gigantescos moradores primordiais da Terra e sonho e memória se confundem em incontáveis anos de espera.


Longa espera pelo tempo em que os pequeninos seres humanos aprendam, como eles, a amar o mundo que habitam e, assim, percebam os gigantes adormecidos e os convidem a despertar, para juntos viverem em harmonia, criando e transformando respeitosamente o mundo que nos acolhe.


IMAGEM

The Colossus - Francisco Goya



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